"Todo cidadão brasileiro deveria entender que gostar de ler é trocar horas de aborrecimentos por momentos de alegria, embora muitos façam o contrário. Acham que a leitura é cansativa, não traz muito entretenimento". A afirmação do professor, historiador e diretor da Biblioteca Municipal Ney Pontes Duarte, Almir Nogueira, apresenta uma perspectiva sólida a respeito do atual panorama comportamental dos leitores. Dados da pesquisa mais recente realizada pelo Instituto Pró-Livro mostram que o hábito da leitura tem caído a cada ano no Brasil. Entre 2007 e 2011 (último ano em que o levantamento ocorreu) o total de leitores brasileiros caiu de 95,6 milhões para 88,2 milhões, sinalizando que algo precisa ser feito para reverter esse quadro.
"Hoje, muitas pessoas, principalmente os jovens, se dedicam a entretenimentos como, por exemplo, filmes, jogos, TV. Dificilmente o adolescente quer se dedicar à leitura, fazer uma viagem através de um romance, de um trabalho fictício, ou mesmo através de uma literatura brasileira, portuguesa ou europeia. Para mim, nada melhor do que pegar uma boa literatura. Acho ruim quando o livro termina, pois você viaja no tempo, é algo maravilhoso. E a diversidade dessas literaturas está à disposição de todas as pessoas", afirma o professor Almir Nogueira.
Além da infinidade de opções de entretenimento que o possível leitor tem à disposição, que outros fatores estariam enfraquecendo o hábito da leitura? Segundo o diretor da Biblioteca Ney Pontes Duarte, falta estímulo da família. "Os costumes vêm de casa. Se em casa você tem uma boa educação, exemplos de bons princípios, lá fora isso vai ser apresentado para os demais cidadãos. A maior escola do mundo começa a partir do lar. Lamentavelmente, a maioria dos pais não se preocupa com desenvolvimento cultural do filho. Muitos pais não têm sequer tempo para os seus filhos", diz Almir Nogueira, acrescentando que determina em sua casa os horários em que seu neto assistirá TV, jogará video game e dedicará à leitura. "Levamos livros infantis para ele ler, e temos que negociar, porque ele quer passar o dia assistindo desenhos".
Como consequência da falta de leitura, muitos jovens encontram dificuldades em redigir textos, compreender o que está diante de seus olhos. "Nós estamos vendo hoje que muitos alunos não sabem redigir, não sabem ler, mesmo estando em um grau elevado. Um aluno do ensino fundamental já é pra ler de forma correta, para não adulterar um texto. Eu acho que se as pessoas lessem mais, se dedicassem mais aos livros, se expressariam melhor, iriam entender bem melhor as coisas, pois gostar de ler, eu repito, é trocar horas de aborrecimentos por momentos de alegria", pontua o professor.
Apesar das pesquisas e do prospecto sombrio que se apresenta, a paixão pela leitura ainda pode ser encontrada. A estudante Bianca Nayara, 18 anos, é um exemplo disso. Mesmo diante da tecnologia, e da facilidade de localizar títulos e obras pela internet, ela ainda prefere se debruçar sobre os livros de papel.
"Gosto muito dos livros mais antigos, pois é uma forma de se adquirir conhecimento. Também leio bastante os romances atuais, exceto aqueles que abordam temas como o vampirismo, esses eu não leio", destaca a discente, que lê, segundo ela, em média 10 livros por ano.
Para a agente de mapeamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Raylane Ferreira, não há hora específica para se dedicar à leitura. "Geralmente eu gosto de ler livros de conteúdo religioso ou alguma dessas trilogias atuais. E na internet todos os dias eu paro pela manhã pra ler as notícias. No caso de livros, se eu gostar muito do conteúdo da história, geralmente leio em qualquer tempo que tenho vago, e acabo de ler em dois ou três dias, no máximo", conta.
Iniciativas como a FLM contribuem para o incentivo à leitura
Lançada oficialmente no último dia 10, a 9ª edição da Feira do Livro de Mossoró (FLM), que tem como tema "Um livro na mão e um sorriso no rosto", tem como um de seus principais objetivos estimular o hábito da leitura.
"A Feira tem dois grandes objetivos: estimular a leitura e a produção literária. Ao longo dos últimos anos temos incentivados novos leitores, e revelados nomes, que antes não tinham a oportunidade de terem seu talento reconhecido", conta Rilder Medeiros, organizador do evento.
Este ano, a Feira, promovida pela agência de comunicação Oficina da Notícia, será realizada nas instalações do Mossoró West Shopping, entre os dias 7 e 11 de agosto.A programação do evento ainda está sendo elaborada, mas alguns nomes já confirmaram presença, entre eles o escritor e crítico literário José Castello; o especialista e mestre em literatura Aluísio Barros; o músico Lirinha e o autor do livro "O fole roncou! Uma história do forró", jornalista Carlos Marcelo.
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