Em qualquer teste ou prova de conhecimento, o desempenho de cada candidato vai depender do seu aprendizado. Mas, diversas razões, algumas subjetivas, estão sendo apontadas para o fato de que 1/3 dos candidatos à obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) no Departamento Estadual de Trânsito (Detran) sejam reprovados, uma das das quais é a má formação dos candidatos dentro das chamadas autoescolas.
A subcoordenadora da Controladoria Regional de Trânsito, Márcia Marques, disse que em alguns casos existe um faz-de-conta - “mas não são todas” - da parte dos próprios Centros de Formação de Condutores, tanto que só este ano 68 centros sofreram advertência, suspensão ou tiveram cassação de registro do funcionamento no Detran.
Márcia Marques disse que existiam casos de o aluno comparecer à autoescola, colocar a digital para a identificação biométrica, iam embora e só voltaram no final da aula para novamente pôr a digital. “Os centros não estavam dando aula, o aluno fingia que aprendia e e outro fingia que dava aula”.
No entanto, Márcia Marques admite haver controvérsias quanto à falha na formação dos condutores, inclusive com relação aos números de horas/aulas exigidas pela legislação de trânsito, que é de 45 h/a de 50 minutos cada uma para as aulas teóricas e de 20 h/a para o exame de direção veicular, que é popularmente chamada de prova prática de volante. “Para pessoas que não sabem nada, acho muito pouco, mas para pessoas que tem uma base, acho que é suficiente”, explicou a subcoordenadora.
A partir de maio o Detran vai iniciar parceria com os 83 Centros de Formação para capacitação
Com relação ao aprendizado dos alunos, ela disse que a orientação dada pelo Detran, é de que os candidatos procurem se informar, mesmo por intermédio de parentes e pessoas que já fizeram autoescola, sobre aquelas onde os alunos obtém melhor formação, porque “porque dificilmente eles vão ter uma boa prática, se não têm o bom aprendizado teórico”.
Márcia Marques informou que a partir de maio o Detran vai iniciar um projeto de parceria com os 83 Centros de Formação de Condutores em atividade no Rio Grande do Norte e ai também executar um trabalho de reciclagem e capacitação dos 648 instrutores de trânsito cadastrados no Departamento de Trânsito.
O assessor técnico e membro da Comissão de Fiscalização do Detran, Jacó de Oliveira, disse que esse projeto ainda não tem um cronograma de datas, mas será levado a Natal, Mossoró e Caicó e admitiu que havia uma certa deficiência de fiscalização da autarquia junto aos Centros de Formação de Condutores, em virtude da falta de recursos humanos.
“Muitas vezes não havia essa interação entre os Centros e o Detran, que como órgão credenciador, faz parte desse mesmo processo”, disse Oliveira. Ele acrescentou que com as convocações de concursados – de três fiscais existentes que ainda atuam na área administrativa, passou a ter seis -, vai ser possível fazer acompanhamento pedagógico, didático e de planejamento das aulas.
"A gente aqui ensina para ele passar na prova de volante"
Dono de uma autoescola na avenida Bernardo Vieira, José Ilton de Medeiros disse que em períodos de férias, “à procura aumenta muito”, mas, atualmente, tem 69 alunos nos três turnos.
Para José Medeiros, no caso da demora em realizar o exame de volante, o aluno termina prejudicado, “porque perde um pouco da habilidade que aprendeu”.
O instrutor Elder Tarquínio disse que o exame de direção veicular é como um vestibular, “o aluno estuda até os dias das provas, se demora a fazer, esquece alguma coisa”. Tarquínio também acha que não é função de uma autoescola ensinar uma pessoa a dirigir. “Ela aprende isso na prática, no dia-a-dia do trânsito, a gente aqui ensina para ela passar na prova de volante”, disse ele.
Antonio Faisbanchs fez o teste de volante na sede do Detran, na Cidade da Esperança, e disse que um certo nervosismo atrapalha as pessoas. “O que aprendi nas aulas teórica e prática, realmente pude executar no exame de direção veicular”, contou.
O examinador Luiz da Cunha Júnior afirmou que já ouviu declarações de candidatos a motorista de que não tinham aprendido nada na autoescola.
Demora contribui para alto índice de reprovação
A demora na realização do exame de direção veicular no Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RN) também é apontado, segundo os próprios alunos e diretores de autoescola, como um motivo para o alto índice de reprovação na prova prática de volante.
O presidente da Comissão de Examinadores do Detran, Marcioclei Correia, disse que, realmente, existe uma demanda reprimida por causa das mudanças técnicas e administrativas que vêm ocorrendo desde setembro de 2012, quando o Ministério Público Estadual (MPE) desbaratou, em parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), uma quadrilha que vinha fraudando o processo de emissão das carteiras de motoristas.
Marcioclei Correa está há apenas duas semanas no cargo e explicou que, por conta disso, o Detran teve de trocar as equipes de peritos “e passou a fazer rodízio entre os examinadores”. Segundo ele, os 36 peritos examinadores existentes hoje, dos quais 70% são de policiais militares cedidos pelo comando da PM numa parceria feita com o Detran, depois que passaram por cursos específicos de peritos.
Ele disse que considera esse número suficiente. Para atender a demanda reprimida, as autoescolas, que podiam encaminhar 11 alunos por semana para a realização do exame de direção veicular, agora vão encaminhar 24. Outro dado, segundo Correia, é que algumas exigências legais não vinham sendo praticadas pelos próprios examinadores, como a presença de dois peritos dentro do carro da autoescola.
Tribuna do Norte
Nenhum comentário:
Postar um comentário