Na última terça-feira, o programa Profissão Repórter, exibido pela Rede Globo de Televisão, direcionou atenção especial para o caos no atendimento à saúde no interior potiguar.
O programa, com reportagens especiais realizadas em outros dois estados brasileiros, Maranhão e Rondônia, mostrou a rotina de dificuldades no atendimento médico em cidades situadas longe dos grandes centros.
No Rio Grande do Norte, as reportagens foram conduzidas pelas repórteres Eliane Scardovelli e Paula Akemi, que acompanharam as limitações de atendimentos nas cidades de Pau dos Ferros e Caicó, respectivamente.
"Nós fomos para o Rio Grande do Norte tentar mostrar que 27% dos brasileiros vivem em cidades que não têm muita estrutura de saúde. Sem serviço especializado de hospital e pronto-socorro", destacou Eliane Scardovelli no início do programa.
Com uma câmera na mão, Paula Akemi se deslocou ao Seridó onde verificou a rotina do Hospital Regional de Caicó que atende uma área com 100 mil pacientes de 20 cidades seridoenses.
Akemi constatou a prática comum da 'ambulanciaterapia' que migra pacientes de cidades menores para os hospitais de referência, realidade contestada pela companheira de programa Eliane Scardovelli.
"Para a nossa surpresa, mesmo nestes hospitais ditos como referência o atendimento não é satisfatório", declarou Scadorvelli.
Scardovelli se deslocou até Pau dos Ferros onde verificou o funcionamento do Hospital Regional Cleodon Carlos, que atende pacientes de todo o Alto Oeste e parte do Ceará e Paraíba.
Em Pau dos Ferros, a repórter constatou que equipamentos que poderiam salvar vidas estão sem funcionamento por peças de reposição que custam apenas R$ 9.
Os problemas se estendem aos leitos de UTI, onde alguns leitos funcionam com estrutura de equipamentos incompleta.
"Dos cinco leitos da UTI tem dois leitos sem a ventilação que é indispensável. Aí fica difícil você decidir entre a vida e a morte das pessoas por falta de equipamentos", denuncia o médico plantonista Adalto Aquino.
As deficiências estruturais se estendem a produtos básicos como gazes e medicamentos.
Durante a passagem da equipe de reportagem o farmacêutico de plantão destacou que o estoque se mantinha insuficiente para atender a demanda da região.
"Estamos com um resto, mas que é insuficiente para a abastecer o hospital.". Indagado sobre como era possível trabalhar sem gaze, o farmacêutico Leandro Nogueira destacou que às vezes o hospital pede emprestado ou recorre a doação dos municípios que utilizam dos serviços da unidade regional de atendimento.
O Hospital Cleodon Carlos atende cerca de 200 mil pessoas de 36 municípios.
Equipe acompanha transferência de criança a 130km/h
Sem estrutura para atender a maioria dos casos graves, o hospital de Pau dos Ferros encaminha parte dos pacientes para outras unidades regionais como o Hospital Regional Tarcísio Maia em Mossoró ou para unidades de atendimento na capital.
A equipe comandada por Eliane Scardovelli acompanhou a transferência de uma criança para Natal numa ambulância comum e sem estrutura para atender casos mais graves.
Rejane de Souza, mãe da criança, denunciou que teve que comprar o medicamento Ranitidina para aplicação na paciente, que custa apenas R$ 1, e estava em falta no Hospital Cleodon Carlos.
Rejane destacou que para transferir a filha arcou com a contratação de uma enfermeira por R$ 150 que acompanhou o trajeto até a capital. "Aqui não tem nada, só soro", reforçou em tom de indignação.
Durante o traslado a Natal a repórter atentou para a velocidade do veículo que seguia a 130km/h numa via com velocidade permitida apenas para 80km/h.
Motorista há oito anos, Jonathas Pinto destacou que era um caso de emergência, que exigia um rápido deslocamento e destacou as limitações impostas para o uso da ambulância que conta apenas com 60 litros de combustível por dia.
"Quando é pra Natal às vezes ficamos esperando pra (sic) no outro dia abrir novamente esta cota para poder voltar", afirma o motorista.
CONTRASTES
Em Caicó, a repórter Paula Akemi acompanhou um plantão e identificou um médico que trabalhava com paralisia de parte do corpo e utilizava de um assessor para preencher as receitas que eram pescritas aos pacientes.
Mesmo com os efeitos de um AVC, o médico plantonista era o único a atender durante o plantão.
No mesmo hospital, mesmo com área destinada à UTI, os funcionários apresentaram uma realidade de contraste.
Sem leitos tecnicamente equipados para o tratamento intensivo, equipamentos estão desativados numa sala ao lado por falta de estrutura mínima para funcionamento.
A Secretaria Estadual de Saúde emitiu nota ao programa afirmando que o Estado está em busca de soluções e abrirá sindicância para verificar as denúncias. A nota destaca que a secretaria criou uma comissão que está trabalhando para impedir a falta de medicamentos ou produtos para atendimento básico nos hospitais do RN.
O jornal O Mossoroense contatou a secretária adjunta de Saúde do Rio Grande do Norte, Dorinha Burlamaqui, que se manteve à frente da Secretaria de Saúde até a tarde de ontem.
Dorinha destacou que não acompanhou o programa em função da agenda de compromissos cumprida em Brasília. Disse que o governo reconhece os problemas e está na busca de soluções a médio prazo.
"Fiquei apenas um mês na função de secretária de Saúde e a nossa posição é de buscar melhorias. Contamos com um novo secretário e vamos buscar soluções para estes problemas da saúde. Estive em Brasília onde já obtivemos boas respostas do governo federal e acreditamos que as evoluções devem sanar parte destas limitações", conclui.
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