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quinta-feira, 7 de julho de 2011

Mulheres enfrentam via-crúcis para conseguir tratamento de câncer de mama


O Jornal Nacional está exibindo nesta semana uma série de reportagens sobre o câncer de mama. É a segunda maior causa de mortes de mulheres no Brasil. Só as doenças cardíacas matam mais. Nesta terça-feira (5), a repórter Lília Teles mostra qual a melhor idade para se começar a fazer a mamografia e as dificuldades que muitas brasileiras enfrentam para se tratar.
Madrugada no Rio de Janeiro: mais um dia da luta de Márcia para fazer a mamografia. Uma batalha que começou em setembro do ano passado, como o Jornal Nacional mostrou na segunda-feira (4).
Ela acordou às 4h e seguiu para o centro municipal de saúde em Irajá, no subúrbio carioca. Chegando lá, já encontrou uma fila de madrugadores. A espera foi registrada com uma câmera escondida. O portão foi aberto às 6h e Márcia seguiu para outra fila de entrega de senha. E duas horas depois, para a triagem.
Ela precisava agendar uma consulta com um ginecologista, que daria a requisição do exame. Por volta das 10h, a resposta: não havia vaga para aquele dia.
“Caramba! Cheguei aqui às 4h40, enfrentei uma fila danada e não vou conseguir ser atendida?”, ela reclamou.
Márcia foi orientada a voltar na semana seguinte. “Para eu tentar na próxima quarta-feira chegando mais cedo ainda, por volta de 3h, 3h30. Sem ter a certeza de eu ser atendida”, lembra.
No mesmo dia, ela foi para outro posto de saúde, onde também teria que esperar por uma desistência.
O sucesso do tratamento do câncer muitas vezes depende daquele diagnóstico que é feito bem no comecinho, quando a mulher nem tem os sintomas da doença. A dúvida é: quando é que se deve começar a fazer a mamografia?
Toda mulher a partir dos 40 anos tem direito à mamografia de graça. Isso é assegurado por uma lei federal de 2008. Essa também era a idade indicada pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) para que se começasse a fazer o exame, que deveria ser feito uma vez por ano. Mas a regra mudou: atualmente, a orientação é que se faça a mamografia a partir dos 50 anos, a cada dois anos. E as mulheres se perguntam: por que essa mudança? Será que não fica tarde demais?
O presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Carlos Alberto Ruiz, diz que por trás dessa orientação do Ministério da Saúde, está um orçamento que não consegue custear todos os exames.
“O Inca apresenta um volume financeiro limitado. A pergunta é: o que eu posso fazer com isso? E o que ele pode fazer com isso é: a partir dos 50 bienalmente”, diz.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, nega que a mudança seja por falta de dinheiro. “Está seguindo um parâmetro de rastreamento, de política de rastreamento internacional de 50 a 69 anos. Mas nós continuamos orientando a partir dos 40 anos. Vários serviços municipais fazem. Nós vamos garantir recursos para isso”, afirma.
Não é só o Brasil que adota os 50 anos. A orientação também é seguida em algumas partes da Europa: na Inglaterra, Alemanha, França e Itália. Outros países acham que o melhor é começar aos 40 anos. É o caso de Japão, Coreia do Sul e Suécia.
Já nos Estados Unidos, o governo defende os 50 anos, mas para a Sociedade Americana de Câncer, a mamografia deve ser feita bem antes disso.
No Instituto do Câncer do Estado de São Paulo um estudo reforça a necessidade de se começar a prevenção o quanto antes. “Hoje nós temos aqui 15% das nossas pacientes têm menos de 45 anos”, revela Edmund Baracat, diretor do Instituto do Câncer do Estado de SP.
Pouca idade, falta de acesso ao exame. Todas essas dificuldades se refletem em números que chocam. No Instituto Nacional do Câncer, no Rio, uma das principais referências no tratamento da doença, 60% das pacientes já chegam nos estágios 3 e 4 do câncer de mama, ou seja, com muita gravidade.
“Para quanto maior o tamanho do tumor, a cada milímetro que o tumor cresce, diminui em 1% a chance de cura. O câncer não espera”, alerta a mastologista Maira Caleffi.
Elizabeth, que se recupera da retirada da mama, tentou, mas não encontrou a rapidez necessária. Todo o processo, desde o primeiro sintoma até agora, demorou dois anos. O primeiro diagnóstico de um hospital municipal do Rio dizia que o tumor não era maligno. Mas seis meses depois, a biópsia confirmou o câncer.
“O tumor que na época estava com 5 centímetros, quando eu fiz a mamografia, na consulta com o médico, já estava com 10 centímetros. Se eles tivessem feito a cirurgia logo em seguida, ou então feito a biópsia, não chegaria a tanto”, diz ela.
Depois da quimio e da cirurgia, ela teve que esperar oito meses por uma vaga na radioterapia. Quando a equipe do Jornal Nacional encontrou Elizabeth, o tratamento estava parado pela segunda vez porque a máquina não estava funcionando.
“Até me dá uma dúvida, se essa máquina, toda vez que quebra, se realmente o tratamento está sendo feito como tem que ser”, ela confessa.
Dona Elizabeth ligou para saber a previsão: “Não tem nenhum previsão de quando vai retornar?”, ela perguntou. “A gente não tem certeza nenhuma para passar para paciente ainda”, respondeu a atendente.
Elizabeth faz o tratamento no Hospital Mário Kroeff, no Rio, que autorizou a equipe de reportagem a entrar. O equipamento foi encontrado exatamente como Elisabeth falou: a máquina, com 23 anos de uso, estava desmontada para manutenção. Os técnicos dizem que quando está em operação, o aparelho fico sobrecarregado.
“Estamos com uma média de 90 pacientes em tratamento. Todos os dias”, relata a radioterapeuta Patrícia Castro.
Elizabeth ainda está longe de levar uma vida normal. Ela não pode, por exemplo, pegar o filho pequeno, de 4 anos. “Não pode. Porque a mamãe está dodói”, ele diz.
O tratamento da paciente Elisabeth foi interrompido duas vezes: em abril e em maio. O diretor do Hospital Mário Kroef, Hiram Silveira Lucas, afirmou que o aparelho de radiologia mostrado na reportagem foi substituído por um novo, mas não informou quando isso foi feito.

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